7- Império Chinês
A ascensão da Dinastia Qing
A história do império construído pela dinastia Qing é repleta de conquistas militares, estabelecimento de colonias, vassalos e um voraz apetite por territórios, povos, religiões, ideias e objetos. Um império fundando por uma minoria manchuriana que, de alguma forma, manteve unida por dois séculos e meio uma grande tapeçaria de grupos étnicos: chineses Han, mongóis, tibetanos, além das milhares de “minorias” (“minorias” pois muitas delas ultrapassavam em número facilmente países ocidentais).

O povo manchu, ou manchuriano, de onde os Qing vieram, também têm origens muito heterógeneas. A maior parte desse povo ocupava o que é a área central de região conhecida hoje como Manchúria, eram um povo com influencias genéticas mongóis, siberianas e coreanas. Por muito tempo foram conhecidos como um povo nômade chamado Jurchen, para a dinastia Ming, que dominou boa parte da atual China entre a queda da dinastia Yuan (a dinastia Mongol de Kublai Khan) e a acensão dos Qing, entre 1368 e 1644 D.C, eles eram “os selvagens do norte”.
A questão de nomenclatura é um pouco confusa, dado que o o que hoje chamamos de China é um mosaico de povos e culturas, então usarei os termos de dinastias para designar quem controla o Trono do Dragão e tem o título Confuciano de Filho do Paraíso. Ou seja, para finalidade de clareza só chamarei o império Manchu de dinastia Qing quando a Ming for subjugada após 1644.
Os criadores do império Manchu, Nurhaci e seu filho Hung Taiji foram notavelmente pragmáticos na construção de seus alicerces. Eles atraíram e recompensaram diversos acadêmicos “Chineses” (chineses sendo aqueles que viviam sob a dinastia Ming) para administrar a incrivelmente complexa máquina administrativa de seu novo Estado, fundado oficialmente em 1616. Por isso, os exércitos Manchu que conquistaram a China em 1644 eram dominados por técnicas, armas e, principalmente, colaboradores chineses.

E apesar da China, com seus vastos rendimentos agrícolas e numerosos centros urbanos, ter sido uma grande conquista, foi apenas um dos territórios anexados pelos Manchu/Qing ao longo dos séculos XVII e XVIII. Em 1634, Hung Taiji havia percebido a grande ameaça potencial da Federação de Tribos da Mongólia Interior ao seu Império na Manchúria, por isso tomou ousadas atitudes, utilizando alianças, subterfúgios e subornos. Em 10 anos, o líder da federação teria sido envenenado e seus ossos pulverizados e espalhados por Beijing, como um sinal para qualquer um que ousasse ameaçar o novo império.
Sentindo o perigo de uma aliança entre Mongóis exteriores e Tibetanos (que essencialmente flanquearia o império, tornando uma vitória algo improvável), o segundo imperador Qing, Kangxi, ocupou o palácio do Panchen Lama (número 2 do budismo, atrás somente do Dalai Lama), terminando a a independência tibetana e o anexando ao império. Alguns anos depois, utilizando ouro e promessas, ele dividiria os líderes tribais mongóis e eventualmente conquistaria a planície com ajuda de muitos colaboradores e anexaria militarmente a região atualmente conhecida como Xinjiang, com uma numerosa minoria islâmica turcomena. Tudo isso enquanto implantava um regime marionete na atual Taiwan, que logo seria anexado.
Após cerca de 50 anos, os Qing saíriam de meros nômades com cerca de 500 seguidores a governantes de uma grande parte da Ásia Oriental e, essencialmente, governantes do maior e mais rico império do mundo. Ao final de tudo, os imperadores Qing poderiam realisticamente se proclamarem os senhores dos senhores, pois tinham os títulos de Filho do Céu, ou seja, detentor do Mandato do Céu Confuciano (irei me aprofundar nele futuramente); Khan de todos os Khans da Mongólia (também a ser mais explorado); e de Patrono Chefe do Budismo Tibetano ou Rei que Move as Engrenagens do Mundo (uma espécie de messias pós Buda).